terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Como um cego

oracao1
Como um cego, Senhor,
eu busco a luz de tua face,
mas, a cada passo do caminho
tropeço em meus medos e dúvidas.
Como um cego, Senhor,
eu busco a luz de tua face;
mas a avalanche de perguntas
distorce e disturba todas as respostas.
Como um cego, Senhor,
eu busco a luz de tua face;
mas o ritmo vertiginoso do dia-a-dia
tudo atropela, não deixando lugar à reflexão.
Como um cego, Senhor,
eu busco a luz de tua face;
mas a escuridão se faz tão densa
que me impede de acender uma vela.
Como um cego, Senhor,
eu busco a luz de tua face;
mas as incongruências e contradições
paralisam na origem qualquer iniciativa.
Como um cego, Senhor,
eu busco a luz de tua face;
mas o céu parece tão indiferente
que só me resta ouvir o silêncio.
Como um cego, Senhor,
eu busco a luz de tua face,
mas tateio de um lado para outro
em minha despovoada solidão.
Como um cego, Senhor,
eu busco a luz de tua face;
mas o deserto permenece estéril
sinal da aridez que me vai pela alma.
Como um cego, Senhor,
eu busco a luz de tua face;
mas as águas estão turvas e bravias
a ponto de esconder o farol e o porto.
Como um cego, Senhor,
eu busco a luz de tua face;
descubro então que nos rostos pobres
- anônimos, desfigurados e excluídos -
brilham a tua face e a tua paz.

Pe. Alfredo J. Gonçalves, cs - Roma, 26 de janeiro de 2017

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